quarta-feira, 7 de abril de 2010

se eu te digo afaste-se é porque eu sei do fim, é porque eu sei que meu riso é alto de um disfarce, meu riso é disfarce do meu cansaço, do que eu desacredito do mundo e de gostar, meus gestos são leves porque todo o peso é dentro, porque se eu não fizesse esse cotidiano exercício de pluma e penas eu arrastaria os pés e seria feia, e de tudo o que eu gastei a beleza me sobrou um pouco, de tudo, quando digo de tudo quero dizer a doçura e o regaço, a mãe, a irmã, fiquei aqui só como amante, como suspiro e matéria, fiquei aqui nua porque de outro modo não poderia ser, fiquei aqui com meus livros e minhas músicas e as plantas que morrem no quintal porque me ocupo de pensar na vida que vivi e errei e não gosto, e tenho medo e certeza de que não mudará jamais, já tive minha cota de príncipes e carrascos e não acredito mais em pares nem em marido e mulher, e isso eu aprendi numa língua que não era a minha e num deserto que eu me enganei. o que eu preciso que você entenda, e que entenda apesar e com seu coração grande, é que eu sou enorme de triste e não caibo em ninguém, não pertenço a ninguém nem lugar, que eu sou um bicho marcado e que, ao contrário de alguém que eu amo, meu coração é longe, mora refugiado no alto de uma escarpa e quem arrisca cai, e isso eu não não quero para você, que me faz tão feliz porque me esqueço. porque ao seu lado me esqueço

(não sei o nome da Autora, mais me identifiquei)

Nenhum comentário:

Postar um comentário